quinta-feira, 3 de junho de 2010

SEM TÍTULO

Costumo pensar bem antes de escrever porque não quero ser injusto, hipócrita ou leviano com quem quer seja, muito menos comigo mesmo, mas ultimamente a questão “postura”, palavra e conceito que eu pessoalmente admiro, respeito e procuro praticar, vem me chamando a atenção também no futebol.

Vamos evitar o sinônimo relacionado ao modo como a pessoa posiciona sua coluna e vamos chamar a postura de “Comportamento”. E vamos chamar o comportamento dentro do ambiente profissional de “Ética” e é lógico que aí vale para tudo, não só para o futebol. E vamos tratar um pouquinho, porque ninguém faz isso mesmo, do mau comportamento e da falta de ética e de postura profissional.

Antes de mais nada é bom deixar bem claro que a culpa de eventual mau comportamento e falta de ética é minha, sua, nossa. Compactuamos, diariamente, com todos os desmandos possíveis. Reelegemos políticos sabidamente corruptos e por quê? “Porque esse rouba, mas faz”. Por falta de opção, por falta de conhecimento, por falta de comprometimento, ou porque “na minha comunidade, ele recuperou uma praça, mandou pintar a escola etc”. Então a mensagem é “tudo bem que você seja desonesto, roube, mas desde que você me ofereça, particularmente, alguma coisa em troca...”. Esse é, infelizmente, o nosso povo. Toma lá dá cá me dá meu troco! Farinha pouca, meu pirão primeiro.

Além da cultura do egoísmo social, vivemos tempos de impunidade máxima e desmedida e de complacência. Fazemos vista grossa para o que não nos é interessante perceber e notar. Não compactuamos com a miséria, mas se não tivéssemos que topar com ela do caminho de casa para o trabalho e se os telejornais à noite só falassem de amenidades, ah, que maravilha seria nossa vida, não é mesmo! Pois é, se você está lendo esse post é porque já faz parte de uma imensa minoria de privilegiados com acesso à internet e, portanto, sei que você não vive na miséria.

A coisa anda tão esquisita que traficante passou a ser exemplo. Aí já entra a responsabilidade do Estado. Não é raro de se ouvir “dentro da favela não tem assalto, roubo, estupro. O dono do morro não deixa. Se pegar fazendo isso corta a mão, mata, esfola”. Ah, pronto, resolvido! Vamos todos nos mudar para a favela porque lá não tem roubo, estupro e se tiver a gente faz a justiça ali mesmo, já que o Estado está, de fato, ausente. A gente prende, julga, condena e executa, sumariamente, em tempo recorde, sem autos conclusos para a sentença ou recurso interposto. E por que? Porque na favela não pode fazer isso! Pode fazer na rua, lá embaixo, pode matar, estuprar, mas na favela não pode”. Na favela não tem roubo, mas tem tráfico, tem bala perdida quando a polícia sobe! Opa, mas aí a culpa é da polícia não é mesmo? Quem mandou perturbar a paz que o traficante e dono do morro instaurou na comunidade?

Calma, amigos, o blog ainda é sobre futebol. Vou chegar lá.

Fiz os comentários acima apenas porque vou tratar da postura e do comportamento de jogadores de futebol, em especial de dois deles.

Dois assuntos me chamaram a atenção sobremaneira nos últimos dois dias: Adriano e Robinho. Dois craques, dois fantásticos jogadores, presentes na última Copa do Mundo. O último, estará com a camisa 11 na África do Sul, o primeiro foi o artilheiro e campeão do último Campeonato Brasileiro pelo Flamengo. Mas o que os dois aí tiveram em comum nos últimos dias? A postura e o comportamento lamentáveis.

Vamos começar por Adriano que é o mais fácil de falar.

Para não dizerem que sou metido a intelectual, vou citar o Capitão Nascimento que está longe de ser um pensador, no filme Tropa de Elite, ao dizer “quantos crianças nós vamos perder para o tráfico para um playboy poder fumar seu baseado?” O que o Adriano pensou ao posar fazendo com as mãos as iniciais de uma facção criminosa ao lado de um suposto traficante? O que ele achou que estava fazendo ali? Bom, estou presumindo que ele não está associado ao tráfico porque, caso contrário, se estiver, tem que ir preso e acabou. Jogador de futebol confunde origem humilde com crime organizado. Não é porque você foi criado com alguém e é amigo desse alguém que você tem que continuar amigo desse alguém se esse alguém se tornar um bandido. Cooperar com traficante é crime previsto na Lei Penal Brasileira, chamado Associação para o Tráfico. Dar presente para traficante é crime. Para mãe de traficante, é crime. Ter “proteção armada” de traficante, é crime. Antes que alguém diga que o Adriano não sabia disso, digo eu, a ninguém é dado alegar em sua defesa o desconhecimento da lei e me desculpem, o Adriano sabia sim. Meus amigos, quem mora ou já morou no RJ sabe muito bem que só entra na favela em comboio de carro importado (como foi o time do Flamengo no dia em que a namorada do Adriano apareceu por lá quebrando tudo), quem tem autorização do tráfico para fazê-lo.

Agora estão o MP e a Polícia atrás do Adriano. Em um país com tanta impunidade acumulada, alguns poucos bodes expiatórios (que não deixam de ser culpados) podem pagar por todos os outros que passaram em branco.

Confesso, no entanto, que o que mais me saltou aos olhos não foi o Adriano ao lado de traficante.

O outro jogador mencionado acima perdeu, mais uma vez, uma grande oportunidade de ficar calado. O que me chocou ainda mais foi ler na internet a manchete: “Em entrevista descontraída, Robinho esquece o nome do adversário do Brasil”. Quer dizer, a impresa do oba-oba, como diz Fernando Calazans, ainda acha bonitinho essa imensa e tremenda falta de educação e mínimo bom senso.

Pois vamos lá, seu Robinho. O país que você esqueceu o nome se chama Zimbábue ou Zimbabwe ou Zimbaué. Uma curtíssima e rapidíssima pesquisa na internet, que era o mínimo que um jogador de seleção brasileira que vai visitar um país e jogar contra sua seleção nacional tinha que fazer, já mostraria algumas das características deste país cujo nome não foi digno de lembrança pelo Robinho. Aliás, deveria haver uma pessoa na CBF (o que faz o Sr. Rodrigo Paiva, além de aparecer nas câmeras ao lado do Dunga, do Jorginho e do Américo Faria nas entrevistas coletivas) responsável por brifar os jogadores e comissão técnica com informações mínimas para evitar alguns constrangimentos. Ficaria muito mais bonito que os jogadores, nas entrevistas, pudessem mostrar um mínimo de conhecimento sobre o solo que estão pisando.

O Zimbabwe, Sr. Robinho, vive uma ditadura socialista desde 1980, quando o líder nacionalista negro Robert Mugabe assumiu o poder. O país é conhecido como um dos que mais desrespeitam os direitos humanos do mundo. A expectativa de vida do homem zimbabuano era de 60 anos em 1990; hoje, é de 44. A da mulher é de 43 anos. Homens e mulheres vivem de forma saudável apenas até os 34 e 33 anos, respectivamente. O número de pessoas portadoras do vírus HIV é de 1.2 milhão. Dentre os direitos humanos suprimidos e não respeitados está o da liberdade de informação e da livre manifestação do pensamento. A imprensa é praticamente controlada pelo governo, através da emissora ZBC. O jornal Daily News teve sua licença não renovada pelo Governo do país, assim como as emissoras BBC News, Sky News e CNN fora banidas por fazerem matérias contrárias aos interesses do governo. O país vive a segunda maior inflação da história da humanidade, 11.200.000.000% em 2008, por exemplo, com os preços dobrando a cada 1,3 dia. O poder de compra da moeda zimbabuana é o mesmo que em 1953. O governo chegou a cortar 12 zeros de uma só vez como medida emergencial para conter a inflação e o desemprego atinge taxas de 80% da população economicamente ativa.

Não precisava saber isso tudo, Robinho, embora, certamente, não te custasse um dedo da mão fazer a pesquisa na internet (ao invés de jogar o PlayStation 3). Mas lembrar o nome do país era o mínimo que você deveria ter feito. Mas você não faz o mínimo, nem sequer descer do ônibus para visitar a instituição de crianças carentes você desceu. Mas a ridícula dancinha depois dos gols, ah, essa você não esquece.

Bonito, nesse ponto, fez o Dunga, que se recusou a ser fantoche da CBF e de seu Presidente e não aceitou fazer propaganda política para o Ditador.

Nem a imprensa internacional cobriu como deveria o jogo do Brasil, já que considerou um ato mercenário (estima-se que o Brasil tenha recebido R$1.000.000,00, no mínimo, para entrar em campo ontem) o jogo em terras tão hostis com seu próprio povo. Prefiro acreditar que o Brasil quis levar alegria e alento a esse povo tão sofrido que lotou o estádio para ver, dentre outros, aquele que não lembrou o nome de seu país.

Robinho é o tipo do jogador que não merece ser lembrado como campeão do mundo pela seleção brasileira e deveria se envergonhar de declarações como essa.

Mas esse é o nosso futebol. De Robinhos e Adrianos, de dancinhas e bailes funk, de ignorância e carinha feia para a torcida. De quero ir embora do Real Madrid porque quero ser o melhor do Mundo (!?) e de estou deprimido por jogar na Inter de Milão.

E até a próxima entrevista coletiva. Ou depoimento.

Sds,

EGM F.C.

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